Foi na Universidade de Lisboa, que em 1962 se deram os eventos posteriormente batizados por “crise académica” que principiaram o fim do regime e a luta pela liberdade. Serve para recordar que a história da Universidade, é também a história dos seus alunos. Alunos que não se circunscreviam nem enclausuraram em uma ou outra escola pois que, assim fosse, não teriam história.
Na história da AAUL houve polémica e contestação, celeuma e contradição. Algo que nunca nos assustou, pois, todas as grandes invenções do homem partiram do debate e do confronto, não do conformismo nem da submissão.
É a construção da nova Universidade que impulsiona e impulsionou também a AAUL. É a existência de uma Instituição de Ensino Superior do Jamor a Santa Iria, passando pelo polo da Ajuda, o Quelhas, a Alameda Afonso Henriques e terminando no Jardim Mário Soares, que potencia uma associação de dimensão homologa, igualmente transversal, igualmente pronta a revolucionar os cânones vigentes.
As estruturas representativas dos estudantes, têm ao dia de hoje um grande desafio, que mais do que nunca as torna fundamentais. Apesar de distante das fogosas lutas estudantis que por várias vezes levaram antigos e atuais dirigentes ás ruas em nome de um ensino superior digno em que o estudante fosse ouvido e acima de tudo respeitado. A pandemia veio reafirmar a indispensabilidade de uma representação coesa que a AAUL, ao longo da sua atividade tem sido capaz de assegurar.
Mas se a pandemia veio confirmar a valorosidade da representação estudantil, veio também iluminar a escuridão, e em concreto os problemas que nela se refugiam. Problemas como a desigualdade social, hoje mais evidente do que nunca, e a saúde mental, e neste caso a falta dela.
Por esta razão é mais necessária AAUL hoje do que o fora no passado. É mais necessária uma plataforma transversal, interassociativa, basilar e comum, equipada com os instrumentos do momento para responder às questões vindouras. E porque hoje, mais do que no passado, é importante que os Estudantes o sejam perante a Universidade de Lisboa.
A Universidade enfrentará novos desafios. A internacionalização do ensino, as vitórias na ciência e as conquistas dos seus membros, contrastam com as carências materiais, a escassez orçamental. Enquanto seu corpo mais numeroso, podemos esquivar-nos da tormenta que se aproxima - ou enfrentá-la. Como facilmente se compreende, só a enfrentaremos unidos.
Neste dia em que a Associação Académica da Universidade de Lisboa, assinala o seu 14.º aniversário, celebra-se também o Dia Internacional da mulher. Pelo que importam algumas reflexões. A violência "é transversal a todas as idades, a todas as geografias, religiões, etnias e rendimentos" e por isso não deixa de existir nas Universidades. Este problema escondido, mas igualmente á vista de todos, não deve ser encarado de animo leve. Todos nós assistimos, ou já assistimos no nosso dia-a-dia a inúmeros casos de abusos, que infelizmente para muitos parecem banais. Mais de metade das mulheres, a dada altura da sua vida são vítimas de algum tipo de abuso sexual. E infelizmente grande parte destes abusos ocorrem no seu percurso universitário. Sentimentos como vergonha e medo aliados a uma irrisória e quase inexistente proteção publica, fazem com que grande parte das vítimas nunca denunciem os seus agressores.
A solução deste problema como a de outros, depende de todos nós. Cabe á AAUL, servir de impulsionadora como o fez no passado e irá certamente continuar a fazê-lo, na defesa do melhor interesse dos seus estudantes e da comunidade.
Parabéns Associação Académica da Universidade de Lisboa
Rodrigo Freitas
Presidente da Associação Académica da Universidade de Lisboa (2019)
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